Eu tinha entre
14 e 15 anos, não sei ao certo. Meus pais estavam em uma fase complicada no
casamento devido à crise financeira que os afetou. Eu e meu irmão mais velho
tínhamos brigado feio na semana anterior, não sei dizer se fiz o que fiz pelo
fato de estar cansada da situação, ou porque sou louca e me descontrolei.
Meu pai, que não
trabalhava perto de casa e não tinha muita afinidade comigo e com meu irmão
resolveu que queria passar um tempo com os filhos - embora eu ache que ele só
queria se aproveitar para ganhar nosso apoio na briga com minha mãe (desculpa,
pai! Eu te amo, mas não sou burra!). Minha mãe não queria nem falar com ele,
mas acabou deixando.
Fomos para o
apartamento onde ele estava morando, na cidade vizinha, lembro-me inclusive que
Daniel quase me bateu por querer ir no banco da frente. Meu pai, que nunca foi
de ter muita paciência, quase amarrou os dois no banco traseiro. Já havíamos
começado mal. Daniel resmungou o caminho inteiro, como se tivesse 10 anos.
Mas enfim,
papai deu algum dinheiro que estava guardado, fomos ao shopping e ao cinema.
Estávamos na barraquinha de churros, que eu quase matei pra comprar, quando
aconteceu.
Meu pai sempre
foi um homem muito bonito e bem apessoado, assim como os filhos, diga-se de
passagem. Mas voltando, eu estava comendo meu delicioso churros ao lado do meu
irmão emburrado, que mexia no celular no banco da praça quando uma mulher
chegou e beijou meu pai. Meu pai. Eu assisti à cena petrificada. Ela tascou um beijão
nele e foi aí que lembrei de minha mãe e suas suspeitas de que meu pai a traía.
Até achei que era loucura, mas ele não afastou a loira alta, que tinha idade
para ser sua filha. Senti um nojo enorme. Sabia que meus pais não estavam mais
juntos como casal, mas minha mãe ainda o amava e os papéis do divórcio ainda
não tinham sido assinados. Eu achei que ainda havia esperança, então com isso
em mente, não pensei duas vezes, levantei antes de Daniel e esbocei um sorriso
falso e irônico.
Meu pai ficou
branco, sem saber o que dizer e a mulher ficou ainda mais branca que papel
sulfite. Lembro das exatas palavras que eu disse a ela: “Você deve ser a
criança que meu pai está adotando... ou é uma amante qualquer?”.
Pronto, esta
foi a deixa para uma briga enorme, mas que acabou funcionando. A mulher foi
embora e tempos depois meus pais voltaram. Hoje sei que não devia tê-la tratado
daquele jeito, foi imaturo. Mas foi marcante e afinal, eu era jovem, jovens
fazem besteiras. No caso, a besteira deu certo.
Moral da
história: faça uma loucura infantil se for por uma boa causa.
Isabella - 8°B 2016
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