segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Racismo na metrópole

Um menino lindo por fora e por dentro, mas que nem sempre teve a beleza reconhecida. Negro. Seus olhos transbordam esperança e seu rosto estava sempre tomado por um sorriso encantador - embora nem sempre verdadeiro. Marlon sempre foi especial, ele sempre teve uma facilidade muito grande em esquecer do que não lhe fazia bem. Talvez tal "dom" se devesse ao fato da inúmera quantidade de coisas que ele era obrigado a esquecer, pois não lhe faziam bem, o que mais doía era a pessoa que lhe machucava. 

Luíza, a menina mais linda do mundo, vista pelos olhos dele. Pena que nunca lhe daria uma chance. O motivo? Todos voces já sabem: ele era negro. Certo dia, na escola, a professora perguntou a todos os alunos se eles tinham um sonho e qual era. Uns ficaram quietos, outros responderam. Marlon, como sempre, se perdeu em seus próprios pensamentos. É claro que ele tinha um sonho, ele queria ser médico, assim poderia ajudar todo mundo. A aula acabou, ele estava terminando de guardar seu material, quando é pego por Luíza:


_ Ei, Marlon! - ela chama, do meio do grupinho - Você tem um sonho?


O menino, confuso e surpreso pela abordagem, pisca algumas vezes tentando assimilar a pergunta e assente. 

_ No mínimo deve ser ter uma gangue de "trombadinhas" como você! - ela ri, sendo acompanhada pelas outras crianças. E continua - Pretos não sonham! Vocês não tem esse direito! - ela diz e sai seguida pelas risadas. 

Aquela havia sido a gota d'água. Entre sorrisos falsos, piadas de mau gosto e lágrimas teimosas, ele decide que chegou a hora. 


7º, 8º, 9º ano. 1º, 2º e 3º colegial. Cursinhos. Namoro. Faculdade. Nossa! Ele passou! Anos de estágio e agora emprego garantido. Noivado. Casamento e viagens para o exterior, ele sem dúvidas se tornou um excelente profissional.


Hoje, depois de 20 anos, sentado em sua mesa à espera do próximo paciente, ele reconhece Luíza aos prantos na sala ao lado. A então publicitária tinha descoberto há pouco um tumor no cérebro e, desesperada, foi procurar a ajuda de um dos melhores cirurgiões do país. 

Um misto de surpresa e vergonha tomam a face de Luíza ao entrar na sala do 'tal' cirurgião e se deparar com Marlon. Ele lança um sorriso acolhedor à paciente. Eles iniciam a consulta e ela finge não reconhecê-lo. A cirurgia para remoção do tumor é marcado e a equipe é escalada.

O dia chega e Marlon se prepara. Faz uma das melhores cirurgias de sua vida e faz questão de não cobrá-la. Ao saber que estava curado, Luíza sorri e agradece, mas antes de ser liberada, ele a para:

_ Luíza, você lembra na 6ª série, quando me perguntou se eu tinha um sonho e disse que pretos não sonham? Sabe o que eu aprendi nesses dez anos de carreira? Que sonhos não tem cor! 


Carolline Bittencourt
8ºB 2016

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